Revista Mosaicos

Surpreende porque aconteceu muito além do imaginável. Numa Base Náutica abandonada surgir uma escola como farol do saber para preservar a cultura indígena

Ao se formar o reservatório de Itaipu, a Comunidade Indígena Avá-Guarani que vivia às margens do Rio Paraná teve que deixar o local e as famílias foram assentadas em três aldeias Ocoy em São Miguel do Iguaçu; Añetete e Itamarã em Diamante do Oeste sob orientação e supervisão da FUNAI. Mas face ao crescimento da população, aos poucos muitas famílias foram em busca de novas terras nas reservas da própria Binacional. Os espaços escolhidos foram nas proximidades das Bases Náuticas de Santa Helena e Itaipulândia às margens do Lago de Itaipu que estavam abandonados, desde a realização dos Jogos Mundiais da Natureza promovidos pelo Governador Jaime Lerner no ano de 1997.

Nosso intento fora verificar como estaria a Base Náutica de Itaipulândia onde foram realizadas as provas nos Jogos Mundiais da Natureza de Vela Laser com 30 barcos olímpicos e na classe Hobbie Cat 16 com 20 barcos com duas velas que fora um sucesso. Passamos pela cidade rumo a Linha Esquina Gaúcha na direção da Base Náutica e nos deparamos com a Terra Indígena Aty Miri, formada por indígenas vindos da Aldeia Ocoy e um grupo de indígenas de Santa Helena. Uma aldeia típica com residências, plantações, indígenas cultivando a terra, animais, bichinhos de estimação até chegar ao destino. A primeira impressão foi decepcionante, tudo abandonado, estrutura deteriorada, até nos surpreender com uma escola no local em funcionamento – “Escola Estadual Indígena Arandu Renda” (voltada para a Educação Infantil e o Fundamental do 1º, 2º, 3º, 4º e 5º anos), vinculada ao Núcleo Regional de Foz do Iguaçu.

A diretora Marilei Baron Astrissi, pedagoga, nos recepcionou fazendo um breve relato da funcionalidade da escola que atende 32 alunos em dois turnos manhã e tarde, seguindo as diretrizes da Educação Básica Nacional, mais seis aulas por semana da Língua Guarani. Os alunos são alfabetizados em guarani e aos poucos, é introduzida a Língua Portuguesa. Atendem os alunos 2 funcionários não indígenas a diretora e o secretário,7 professores indígenas com formação em magistério e letras bilíngue, 1 pedagoga doutoranda indígena, 1 merendeira indígena e 1 servente de limpeza indígena.

A Escola Estadual Indígena Arandu Renda funciona desde 2015, quando o espaço foi revitalizado pela Prefeitura de Itaipulândia e em 2018 o governo estadual fez os reparos necessários. Entretanto, já foi aprovado projeto para melhorias na cozinha e banheiros que aguarda autorização da Itaipu. Esse estabelecimento de ensino indígena está amparado pela Resolução 2075/08, por se tratar de uma cultura diferenciada e para fortalecer suas origens, costumes, crenças, práticas religiosas, respeito às tradições da comunidade e ensino da história do povo guarani.

Residem na Aldeia 60 famílias, cerca de 200 indígenas liderados pelo cacique Natalino de Almeida Peres que encontram na escola o elo para perpetuar sua cultura e a oportunidade de interagir com outras realidades, sob a diretriz escolar da entusiasta diretora Marilei. A de se dizer, que os indígenas chegaram para dar vida ao espaço da Base Náutica e a escola para perpetuar a cultura. (Da Redação Mirtis/Pesquisa Caderno Orientador SIE)